Quem manda na CazéTV e qual é o modelo
Quando aparece uma transmissão que foge do padrão, a pergunta surge: a CazéTV é da Globo? Não. O canal digital que se tornou sinônimo de linguagem popular no esporte é operado pela empresa brasileira LiveMode. Por trás do projeto estão os executivos Sergio Lopes e Edgar Diniz, nomes conhecidos no mercado de mídia esportiva por estruturar negociações de direitos, produção e distribuição digital para diferentes campeonatos.
Casimiro Miguel dá rosto, voz e linguagem ao canal, mas não é o controlador. Ele tem participação minoritária e liderança editorial, algo que ajuda a explicar a identidade do produto: cortes rápidos, narrativas bem-humoradas, interação com o chat e um ritmo pensado para quem assiste no celular. A LiveMode cuida do restante — negociação de direitos, estrutura técnica, vendas publicitárias e operação de bastidores.
O desenho é simples e eficiente: a marca do streamer reduz a barreira com o público jovem, enquanto a operadora profissionaliza a entrega. Esse casamento virou um caso de negócio no Brasil. A partir da Copa de 2022, o canal começou a bater recordes de audiência simultânea no YouTube no país e a atrair patrocinadores de grande porte para um modelo essencialmente gratuito (AVOD), baseado em anúncios, ativações em tela e conteúdo de marca.
Outro ponto que chama atenção é a migração de talentos. Nomes que circularam pela TV aberta e pelo cabo passaram a aparecer nos estúdios digitais da plataforma. Barbara Coelho e Marcelo Adnet, por exemplo, integraram transmissões recentes, como a cobertura do Mundial de Clubes, sinalizando que a disputa não é só por direitos, mas também por carisma, repertório e alcance nas redes.

Direitos de transmissão, disputa com a Globo e próximos passos
A virada de chave aconteceu em novembro de 2022, quando a CazéTV nasceu de olho na Copa do Mundo do Catar. O retorno foi imediato: picos de audiência e um portfólio de direitos que só cresceu desde então. O canal anunciou que vai transmitir todos os jogos da Copa do Mundo de 2026, um acordo direto com a FIFA que, no papel, supera a cobertura parcial prevista para a TV aberta brasileira na edição dos Estados Unidos, Canadá e México.
A lista de propriedades adquiridas e parcerias passou a incluir torneios relevantes e eventos multiesportivos, dando calendário ao canal ao longo do ano. Entre os conteúdos já exibidos ou anunciados estão:
- Copa do Mundo da FIFA 2022
- Copa do Mundo Feminina da FIFA 2023
- Campeonato Carioca 2023
- Brasileirão 2023
- Jogos Pan-Americanos 2023
- Copa do Mundo Sub-20 da FIFA 2023
- Jogos Olímpicos de 2024
- Campeonato Paulista 2024
- UEFA Europa League e Conference League
- Euro 2024
- Campeonato Paulista 2025
- Mundial de Clubes da FIFA 2025
- Diferentes ligas europeias de futebol ao longo da temporada
O movimento mexeu com a concorrência. A Globo, líder histórica em esporte na TV aberta, abriu um novo front digital com o GE TV, canal de esportes no YouTube que estreou com Brasil x Chile pelas Eliminatórias de 2026. A estratégia passa por distribuição multiplataforma — YouTube, Globoplay e Samsung TV Plus — e por um elenco de apresentadores que já fala a língua da internet: Fred Bruno, Bruno Formiga, Jorge Iggor, Luana Maluf, Mariana Spinelli, Sofia Miranda, Jordana Araújo e André Balada.
O recado é claro: o jogo não é só quem tem a TV, mas quem domina a atenção no celular e no streaming. Plataformas gratuitas sustentadas por publicidade, narrativas ágeis, câmeras em estúdio, cortes verticais para redes e uma grade elástica, que consegue entrar no ar em cima da hora sem a rigidez da grade linear. É nesse ponto que CazéTV e GE TV começam a disputar centímetro a centímetro a audiência da nova geração de torcedores.
Por que isso importa? Primeiro, pelo dinheiro dos direitos. O futebol e os grandes eventos vivem de contratos longos, e a divisão entre TV aberta, TV paga e digital ficou mais sofisticada — com pacotes por plataforma, sublicenciamentos e entregas específicas para cada tela. Segundo, pela publicidade: marcas buscam alcance massivo e engajamento, e as transmissões com chat, memes e linguagem de comunidade viram uma vitrine poderosa para ações em tempo real.
Há também a questão da medição. Audiência linear é medida por amostra; no digital, a contagem é por usuários reais, pico de simultâneos e tempo assistido. Isso muda negociação de preço, planejamento de mídia e metas de performance. Quando um jogo atinge milhões de simultâneos em streaming, a conversa com o mercado publicitário muda de patamar — e obriga as emissoras tradicionais a adaptarem formatos, modelos de break e presença nas redes.
No meio disso tudo, o papel de Casimiro segue central no desenho da plataforma. Além de narrar, reagir e viralizar, ele dá o tom da conversa com a comunidade, que entrou no hábito de assistir jogo com celular em mão, comentando ao vivo. O conteúdo complementar — bastidores, entrevistas, quadros de humor e cortes rápidos — mantém o canal vivo também fora dos 90 minutos.
A Globo, por sua vez, usa seu arsenal: estrutura de reportagem em todo o país, acesso a centros de treinamento, transmissões multicâmera e a força promocional de sua grade. Com o GE TV, tenta somar o melhor dos dois mundos: credenciais do jornalismo esportivo tradicional com ritmo e estética pensados para a internet.
O que vem pela frente? Mais leilões de direitos com pacotes fatiados entre plataformas; mais talentos circulando entre TV e streaming; e mais formatos híbridos, em que a mesma partida ganha narrativas diferentes para públicos distintos. Para o torcedor, a consequência é clara: mais opções, mais vozes e, muitas vezes, mais telas ligadas ao mesmo tempo. Para o mercado, uma nova lógica de competição que já não se resolve só no controle remoto — agora passa também pelo algoritmo.