Quando a Disney Plus anunciou Alien: Earth, a expectativa foi alta. Afinal, nada supera a ideia de levar o universo Alien para o nosso planeta, com a assinatura de Noah Hawley e a presença de Ridley Scott como produtor executivo. Mas, depois de algumas maratonas, a impressão que ficou foi de um visual bonito que não consegue sustentar a tensão que a franquia sempre soube criar.
Estética e produção: onde a série acerta
Os primeiros episódios são um prato cheio para quem curte o visual clássico da saga. A iluminação sombria, o design de produção que remete ao “space‑horror” dos anos 70 e 80, e a fotografia que captura a opressão dos corredores de Prodigy City são dignos elogios. O cenário da cidade isolada funciona como um labirinto onde o medo poderia crescer a cada esquina.
Os efeitos práticos recebem menções positivas: as criaturas que aparecem nas sombras têm textura e detalhe que lembram os modelos de silicone da origem da série. No entanto, a mistura de CGI e prática nem sempre cola; em alguns momentos, a criatura parece saída de um filme de terror genérico, perdendo a ameaça calculada que definiu o xenomorfo.
A atuação de Sydney Chandler como Wendy, a híbrida humana‑alienígena, merece destaque. Ela entrega momentos de vulnerabilidade e força que, por si só, poderiam sustentar boas tramas. Mas, sem o suporte de um roteiro consistente, até mesmo uma performance marcante tem seu brilho ofuscado.

Roteiro, ritmo e falta de suspense: os pontos críticos
O que realmente atrapalha a série é a escrita. Os personagens frequentemente tomam decisões que parecem feitas só para avançar a trama, ignorando lógica ou provocando buracos que tiram o espectador da imersão. Em vez do clássico “slow‑burn” que fazia o coração acelerar, aqui a história avança em ritmo forçado, quase como se quisesse chegar ao clímax o quanto antes.
Essa pressa afeta diretamente o suspense. Nos filmes originais, cada corredor escuro, cada porta fechada, era um convite ao medo. Em Alien: Earth, cenas que poderiam ser tensas são diluídas por diálogos explicativos demais e por cortes rápidos que não deixam a ansiedade crescer. O resultado? O terror parece substituído por sustos baratos, típicos de produções direcionadas a um público mais jovem.
- Decisões de personagens sem fundamento lógico;
- Plot twists que mais parecem conveniências de roteiro;
- Falta de construção gradual do medo;
- Inconsistências visuais entre efeitos práticos e CGI.
Além disso, a série tenta equilibrar a ação com a exploração psicológica dos híbridos, mas essa camada nunca é aprofundada. A ideia de humanos carregando parte do DNA alienígena abre caminho para debates sobre identidade, culpa e sobrevivência – temas que poderiam ter sido o coração da trama. Em vez disso, esses conceitos ficam na superfície, como uma pista de corrida que nunca completa a volta.
Outro ponto que gera frustração é a aparente tentativa de adaptar o tom para adolescentes. O humor leve que surge em alguns momentos e as trocas de fala simplificadas dão a sensação de que o seriado quer ser um “young adult” de terror, mas sem o cuidado necessário para manter a complexidade que os fãs de longa data esperam.
Mesmo com direção e edição que buscam imitar o estilo de Ridley Scott, a entrega final parece mais um tributo falho do que uma continuação digna. O ritmo irregular, aliado a falhas de escrita, faz com que a série se perca entre cenas bem produzidas e momentos que simplesmente não entregam a tensão necessária.
Para quem acompanha a franquia desde o primeiro filme, Alien: Earth chega como uma lembrança amarga de oportunidades perdidas. A produção investiu em estética e em um elenco capaz, mas não conseguiu transformar esses recursos em uma experiência que mantivesse viva a essência de terror psicológico que definiu Alien como ícone do cinema.