Quem acompanhou o programa 'É de Casa' da TV Globo no início de fevereiro viu uma homenagem que não só emocionou o público, mas também acendeu a esperança em tempos de renovação na imprensa brasileira. A estudante Mirella Archangelo, de apenas 18 anos e natural de Ribeirão Preto, foi destaque nacional ao participar de um tributo à jornalista Glória Maria, dois anos após a morte dessa referência do jornalismo negro brasileiro.
Mirella ficou conhecida por ser chamada de "mini Glória Maria", não só pela admiração aberta à repórter carioca, mas pelo próprio caminho trilhado desde cedo. Ela se destacou aos 11 anos, quando apareceu em vídeos denunciando problemas de infraestrutura em sua comunidade. Na ocasião, ela chegou a conhecer pessoalmente Glória Maria, um encontro que marcou sua trajetória e a transformou em símbolo local de empoderamento juvenil.
A jovem voltou aos holofotes em 2024 após tirar 960 na redação do Enem, desempenho raro, resultado que atribui à força da rede de apoio dos professores, familiares e amigos. Para Mirella, esse sucesso vai além de notas: é uma vitória para toda a comunidade negra e periférica que luta diariamente para ocupar espaços de destaque. "Foi uma sensação incrível estar ao vivo, sentindo cada segundo e sabendo que muita gente se via representada ali", contou. O nervosismo, segundo ela, misturava-se com a alegria por saber que sua história poderia inspirar outras meninas pretas com o sonho de fazer jornalismo.
Glória Maria sempre foi mais que inspiração para Mirella. A jornalista da Globo ficou conhecida por denunciar desigualdades e contar histórias pouco visibilizadas pela grande mídia. Mirella entende esse caminho como missionário, um chamado para usar sua voz ali onde poucos chegam. "Ser mulher e ser negra num país desigual já é um ato de coragem, mas fazer disso instrumento de transformação é o que a Glória ensinou", afirma Mirella.
O tributo à Glória Maria foi realizado num momento simbólico: o final de semana em que sua morte por complicações de um câncer de pulmão completava dois anos. Mirella destacou a importância de manter viva a memória da jornalista não apenas como personalidade brilhante, mas por seu papel de abrir portas e mostrar o jornalismo como ferramenta para combater o racismo e expor injustiças.
Ao olhar para o futuro, Mirella quer seguir dando visibilidade a questões sociais que, muitas vezes, ficam à margem do noticiário. Seu sonho é chegar onde a câmera não costuma alcançar, dando luz e voz a comunidades desassistidas. O recado é claro: o jornalismo de Mirella pode ser jovem, mas já tem a força da tradição em romper barreiras e promover transformação.