Noite de sufoco no Medlife Stadium: vantagem, susto e resposta
Em jogo de roteiro imprevisível, o Real Madrid venceu o Borussia Dortmund por 3 a 2 e carimbou a vaga na semifinal do Mundial de Clubes 2025. No Medlife Stadium, a equipe espanhola controlou boa parte do duelo, abriu dois gols de frente, e mesmo assim precisou administrar um abalo nos acréscimos, quando o time alemão quase levou a partida para a prorrogação.
O início foi de estudo dos dois lados. Dortmund marcando em bloco médio, sem se expor, e Madrid trabalhando por dentro com Jude Bellingham recebendo entre as linhas, enquanto Vinicius Junior e Kylian Mbappé alternavam ataques à profundidade. Com Federico Valverde e Arda Güler ajustando o ritmo no meio, e Antonio Rüdiger impondo força nos duelos, os merengues foram empurrando o jogo para o campo ofensivo.
O primeiro gol saiu de uma construção limpa: saída por baixo, aceleração nas costuras e finalização precisa. Sem forçar mais do que o necessário, o Madrid seguiu maduro e encontrou o 2 a 0 antes do intervalo, deixando o Dortmund em uma encruzilhada: ou subia as linhas e corria riscos, ou assistia o relógio trabalhar contra.
No segundo tempo, o time alemão endureceu o jogo. Adiantou a pressão, tentou atrair erros na saída madrilenha e encontrou brechas pelos lados. Ainda assim, faltava clareza no terço final. Quando parecia que o Madrid controlaria o placar até o apito, a partida mudou de tom nos acréscimos: Maximilian Beier apareceu para diminuir, 2 a 1, e recolocar o Dortmund na disputa.
O gol acendeu o estádio e trouxe ansiedade ao lado espanhol. Só que a resposta foi imediata. Em transição rápida, Mbappé atacou o espaço, faturou o 3 a 1 e esfriou o embalo alemão. Mesmo assim, o Dortmund não largou o osso: insistiu, ganhou uma penalidade nos instantes finais e Serhou Guirassy cobrou com firmeza, 3 a 2. Faltou tempo para mais. O Madrid resistiu à última bola e saiu com a classificação.
No saldo, uma vitória com cara de grande torneio: controle por longos trechos, susto no fim e decisão nos detalhes. Carlo Ancelotti mexeu no ritmo do jogo quando precisou, alternando fases de posse mais curta com ataques diretos, enquanto Edin Terzic demorou a soltar o time — e pagou especialmente pelo que deixou de fazer no primeiro tempo.

Análise: encaixes, duelos e próximos passos
O Madrid se sentiu confortável quando conseguiu emparelhar as forças no meio. Valverde cobriu grandes áreas, Güler foi uma opção de passe simples — sempre oferecendo linha para progredir — e Bellingham foi o desafogo para virar o corpo e pressionar a última linha do Dortmund. Com isso, Vinicius e Mbappé tiveram campo para atacar as costas dos laterais. Quando o time espanhol acelerava, a defesa alemã ficava dividida entre fechar por dentro e proteger a profundidade.
Defensivamente, Rüdiger comandou o setor com autoridade. Venceu disputas no alto e por baixo e, em bola parada, quase deixou a sua — teria sido mais um capítulo curioso diante do ex-clube, algo que já rondou jogos recentes. Ao lado dele, o time encurtou espaços entre as linhas, evitando o típico passe quebrado do Dortmund que costuma encontrar o homem livre no corredor central.
O Dortmund demorou a ajustar a altura da pressão. Nas vezes em que decidiu subir, incomodou a saída de bola do Madrid e criou segundas jogadas perigosas. O problema foi a falta de continuidade: a equipe iniciava bem a ação, mas perdia o tempo do passe, girava para trás e deixava a defesa espanhola se recompor. Quando acertou o timing nos acréscimos, marcou o primeiro gol e reabriu o jogo — tarde demais para virar a chave por completo.
Individualmente, Mbappé foi decisivo. Não só pelo gol que reestabeleceu a vantagem de dois, mas pelas leituras de espaço: recuou quando o Madrid precisava respirar, prendeu defensores e liberou Vinicius para duelos de um contra um. Bellingham foi o metrônomo emocional — ligou o time, acalmou quando o jogo pedia calma, acelerou quando havia espaço. E Luka Modric, com minutos inteligentes, deu direção às posses longas, chamando faltas e quebrando o ritmo do Dortmund na hora certa.
Do lado alemão, Beier e Guirassy mudaram a temperatura da partida. O primeiro com presença dentro da área e faro no momento do rebote; o segundo, frio na batida do pênalti e útil na disputa física para segurar zagueiros e abrir corredor aos meias. Faltou, porém, um gatilho mais cedo para atacar o lado fraco do Madrid, onde havia espaço para diagonais curtas e cruzamentos rasteiros para trás.
Em termos estratégicos, a leitura de Ancelotti pesou. O Madrid alternou 4-3-3 e um 4-4-2 sem a bola, com Bellingham fechando a linha da direita em alguns momentos, o que travou ultrapassagens do Dortmund e empurrou o rival para bolas laterais previsíveis. Quando precisava acelerar, o time espanhol esticava o campo, atraía a primeira pressão e rompia por dentro com passes verticais curtos — receita que gerou o primeiro gol e instaurou o conforto no duelo.
Nos bastidores, a sensação é de que a equipe espanhola sai fortalecida pela forma como lidou com a turbulência final. Sofrer um gol nos acréscimos costuma desarrumar até time cascudo. A resposta com o 3 a 1 e a frieza para administrar o último lance mostram um elenco acostumado a jogos grandes. Para Ancelotti, é um sinal de que o plano coletivo está acima do talento individual — ainda que o talento, como o de Mbappé e Vinicius, seja o diferencial quando a margem de erro é mínima.
Para Terzic e o Dortmund, fica a frustração de ter encontrado o caminho tarde. A equipe não se escondeu, lutou, teve personalidade no fim, mas entregou 45 minutos que pesaram no placar e no psicológico. O ajuste de pressão e a entrada mais agressiva na disputa de segundas bolas deveriam ter chegado antes. Ainda assim, a atuação final deixa uma mensagem positiva sobre a capacidade de competir em cenário de elite.
O calendário do Mundial de Clubes agora empurra o Madrid para uma semifinal em que a exigência sobe mais um degrau. A equipe aguarda o rival que sairá do outro lado do chaveamento, e a tendência é que a preparação foque em duas frentes: proteger melhor a área em momentos de bola aérea e manter a eficiência nas transições ofensivas. Se o time espanhol repetir o nível de controle que mostrou por longos períodos no Medlife Stadium, chega com boas cartas na mão.
O jogo também deixa lições práticas. Ao Madrid, que não pode permitir que partidas sob controle reabram brechas emocionais nos minutos finais. Ao Dortmund, que precisa encurtar o tempo entre ajustar a estratégia e colocá-la em prática dentro do jogo. Em torneio curto, com eliminação direta, o intervalo entre a ideia e a execução costuma separar quem avança de quem volta para casa cedo demais.
No Medlife Stadium, ficou a imagem de uma noite elétrica: torcida espanhola cantando alto com a classificação; alemães aplaudindo o esforço da arrancada final; e dois times que entregaram intensidade, alternativas táticas e um final que manteve todo mundo em pé até o apito. O placar de 3 a 2 conta a história da eficiência de um lado e da insistência do outro — exatamente o tipo de duelo que o Mundial de Clubes promete quando junta gigantes em um cenário só.